quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Seu Durval e a dura missão de liderar


Imagine uma criança que joga bola no playground do edifício onde mora todas as tardes. Ou seja, uma criança normal. Entretanto, ela é descuidada e todos os dias chuta a bola por cima do muro, para a casa do vizinho. Na primeira vez o vizinho devolve a bola, e pede para a criança ser mais cuidadosa, pois a bola pode quebrar alguma coisa, ou machucar alguém. Na segunda vez o vizinho também devolve a bola. Na terceira, na quarta, na quinta, na sexta e na sétima também. Na oitava vez, como fatalmente ocorreria, a bola atinge a filha do vizinho que estava brincando no quintal. Ela se machuca e entra chorando em casa. Quando a criança descuidada vai buscar a bola, o vizinho endurece um pouco o tom, explica as consequências do descuido do jogador infantil e avisa que da próxima vez ele não verá sua bola novamente. O menino, assustado, para de jogar bola por um tempo. Mas como jogar bola é o que ele faz, logo ele volta. Ele não aprendeu a lição e continua jogando sem cuidado algum. Na verdade ele nunca entendeu os alertas do vizinho. Para ele, o problema era o muro baixo, a bola que pula demais, o próprio vizinho implicante (onde já se viu?!), o clima, o governo, alguém. Ele nem se deu conta de que todas as outras crianças que jogam bola no mesmo playground raramente têm o mesmo problema. Já no mesmo dia lá foi ela. A bola para o quintal do vizinho. O menino foi correndo busca-la e, como combinado, o vizinho não a devolveu. O menino voltou correndo para casa, chorando, reclamar com os pais, com a seguinte frase: “Papai, Mamãe, o seu Durval roubou minha bola”. Os pais, alheios a toda a sequencia de acontecimentos, vão à casa do seu Durval reclamar a bola do filho. Quando seu Durval conta toda a história, inclusive o acidente com a sua filha, os pais não acreditam, acham que ele está exagerando, não estavam lá para presenciar todos os fatos. Seu Durval já tinha doado a bola para uma creche e, para evitar mais confusão, se vê obrigado a dar o dinheiro de uma bola nova para os pais da criança. A vida continua e a bola continua voando, provavelmente no quintal de outra pessoa, mas ela não para. E o menino não aprende.

Agora leia a história novamente trocando o playground do edifício e o quintal do seu Durval pela empresa onde você trabalha, o seu Durval por um gestor desta empresa, a filha do seu Durval por um colega de trabalho, os pais do menino pelas leis e pela justiça trabalhista do nosso país e o menino por um funcionário que foi desligado da empresa.


Não é sempre, mas como gestor já vivenciei vários casos como este, e é exatamente nestes momentos que aprendemos a diferenciar os homens dos meninos no mundo empresarial.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Silêncio Corporativo


Você é um big shot na empresa onde trabalha, tem credibilidade, opiniões fortes e pouca paciência. Ou seja, um executivo comum. Em todas as conversas, reuniões, etc., posiciona-se de maneira contundente e definitiva, com ou sem razão. No começo, as pessoas argumentam, mas com as tuas reações fortes, muitas vezes coléricas, ou com teus olhares de desprezo, com o tempo, mesmo os mais inteligentes, preparados e fluídos na comunicação, começam a achar que o esforço não vale mais a pena. Retraem-se. Essa retração te permite falar qualquer bobagem, agora não apenas achando que está impondo tua visão, mas com a certeza de que está 100% correto. Sempre. Afinal, ninguém tem nem argumentos para rebater. É o que te parece. Quanto mais essas situações acontecem, mais reforço você tem de que está sempre certo. Novos entrantes (pessoas novas na equipe, pessoas novas de outras equipes, fornecedores novos, e assim por diante) desavisados tentam fazer a coisa certa uma ou duas vezes, mas, agora com mais certeza ainda de que não erra, tuas atitudes os apagam também.

Se te pedirem para contar a história da tua vida como líder, admitirá que sempre foi forte e incisivo, mas sempre pensando no bem dos resultados e da equipe, e terá a certeza de que a equipe o respeita e admira, e que foi desenvolvida como nunca. Se alguém da tua equipe for questionado sobre você, ficará confuso, pois ainda tem medo e não aprendeu a falar o que pensa. Quando esta pessoa for ao mercado tentar a sorte, e seu preparo e suas qualificações forem realmente testados, aí sim virá o verdadeiro feedback do tipo de líder que você é. A questão é que este feedback indireto nunca (ou raríssimamente) chega até você. Não se preocupe, tua farsa está bem protegida dos outros, e de você mesmo.

Então, ouso dar algumas dicas caso você não queira intencionalmente se encaixar neste perfil tão comum:

Não confunda, por favor, força com covardia. Destruir a opinião alheia não significa que a tua é boa, nem que você é forte. Significa que você é um covarde. Na verdade mesmo, burro, pois está deixando de aproveitar muita coisa boa que, acredite se quiser, as outras pessoas têm para oferecer.

Quando alguém que ficou muito tempo sob (ênfase no sob) tua liderança sair, por vontade própria ou não, tente acompanhar o que vai acontecer nos primeiros três ou quatro meses pós-você. Não se assuste, por favor.

Se tua equipe andar muito quieta ultimamente, isso provavelmente não é um sinal de que há algo errado com a equipe (como você provavelmente interpretará), mas de que há algo errado com a tua liderança.

Se por algum motivo você achar que a vida é assim mesmo, que essas dicas não servem para nada e que isso é coisa de gente fraca, pelo menos, pelamordedeus, não olhe para o teu povo pensando “caramba, que gente mais sem iniciativa”. Aí já é demais, até para você.


Nem sempre o silêncio vale ouro.