Imagine uma criança que joga bola no playground do edifício
onde mora todas as tardes. Ou seja, uma criança normal. Entretanto, ela é
descuidada e todos os dias chuta a bola por cima do muro, para a casa do
vizinho. Na primeira vez o vizinho devolve a bola, e pede para a criança ser
mais cuidadosa, pois a bola pode quebrar alguma coisa, ou machucar alguém. Na
segunda vez o vizinho também devolve a bola. Na terceira, na quarta, na quinta,
na sexta e na sétima também. Na oitava vez, como fatalmente ocorreria, a bola
atinge a filha do vizinho que estava brincando no quintal. Ela se machuca e
entra chorando em casa. Quando a criança descuidada vai buscar a bola, o
vizinho endurece um pouco o tom, explica as consequências do descuido do
jogador infantil e avisa que da próxima vez ele não verá sua bola novamente. O
menino, assustado, para de jogar bola por um tempo. Mas como jogar bola é o que
ele faz, logo ele volta. Ele não aprendeu a lição e continua jogando sem
cuidado algum. Na verdade ele nunca entendeu os alertas do vizinho. Para ele, o
problema era o muro baixo, a bola que pula demais, o próprio vizinho implicante
(onde já se viu?!), o clima, o governo, alguém. Ele nem se deu conta de que
todas as outras crianças que jogam bola no mesmo playground raramente têm o
mesmo problema. Já no mesmo dia lá foi ela. A bola para o quintal do vizinho. O
menino foi correndo busca-la e, como combinado, o vizinho não a devolveu. O
menino voltou correndo para casa, chorando, reclamar com os pais, com a
seguinte frase: “Papai, Mamãe, o seu Durval roubou minha bola”. Os pais,
alheios a toda a sequencia de acontecimentos, vão à casa do seu Durval reclamar
a bola do filho. Quando seu Durval conta toda a história, inclusive o acidente
com a sua filha, os pais não acreditam, acham que ele está exagerando, não
estavam lá para presenciar todos os fatos. Seu Durval já tinha doado a bola
para uma creche e, para evitar mais confusão, se vê obrigado a dar o dinheiro
de uma bola nova para os pais da criança. A vida continua e a bola continua
voando, provavelmente no quintal de outra pessoa, mas ela não para. E o menino
não aprende.
Agora leia a história novamente trocando o playground do
edifício e o quintal do seu Durval pela empresa onde você trabalha, o seu
Durval por um gestor desta empresa, a filha do seu Durval por um colega de
trabalho, os pais do menino pelas leis e pela justiça trabalhista do nosso país
e o menino por um funcionário que foi desligado da empresa.
Não é sempre, mas como gestor já vivenciei vários casos como
este, e é exatamente nestes momentos que aprendemos a diferenciar os homens dos
meninos no mundo empresarial.